sexta-feira, 9 de março de 2012

Conferência, dia 2: fraude em alimentos, o que você precisa saber

John Spink, diretor adjunto do programa de ações anti-fraude da Faculdade de Justiça Criminal da Universidade de Michigan, define a fraude de alimentos como "uma adulteração intencional pelo uso de ingredientes mais baratos, visando ganho econômico".

John Spink, da Universidade de Michigan
Historicamente, as questões relacionadas às fraudes alimentares não têm recebido a mesma atenção que a segurança de alimentos e o food defense, mas John acredita que a conscientização sobre o tema vem  crescendo. Segundo ele, o aumento no número de fraudes é motivo de grande preocupação para o FDA. Em resposta, o órgão vem estimulando as empresas a reforçarem seus sistemas de prevenção e vigilância com base na avaliação de riscos. Paralelamente, o FDA vem melhorando seu sistema de resposta imediata e  aumentando sua velocidade de reação ao público, à indústria e a outros atores da cadeia.

Conversando com o palestrante, soube que nos Estados Unidos há vários cursos de graduação e de especialização em prevenção de fraudes. Tendo em conta os desafios representados pelo cenário econômico em todo o mundo e o fato de que a oferta de alimentos vem se tornando mais global, John alerta para o risco de uma pressão crescente para que fornecedores inescrupulosos cometam fraudes relacionadas a alimentos. Também assinalou que fraudadores têm buscado cursos técnicos especializados em ações anti-fraude no intuito de encontrarem brechas no sistema. Lembrando do caso da melamina no leite, fraude ocorrida na China em 2008, e nas criancinhas que morreram em consequência desse trágico episódio, as ameaças são realmente assustadoras.

Na China,  pelo menos seis bebês morreram e cerca de 300 mil pessoas ficaram doentes devido à fraude do leite com melamina




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quinta-feira, 8 de março de 2012

Conferência, dia 2: varejo e segurança de alimentos

Demorei, mas finalmente consegui um tempo para resumir duas outras palestras que assisti no segundo dia da Conferência.

Amanhã, teremos também o resumo de uma palestra sobre fraudes, da qual não consegui participar mas cujos slides me foram gentilmente cedidos por um dos palestrantes.



  • a multiplicidade de normas/esquemas
  • a não suficiência de esquemas suficientemente adequados
  • questões relacionadas à competência dos auditores
  • normas que por vezes exigem padrões por demais elevados/ sofisticados
  • a falta de follow up
  • a falta de massa crítica em alguns países



A rede Metro como catalisadora de mudança para a Segurança de Alimentos

Peter Overbosch, Vice-Presidente da Qualidade Corporativa do Metro Group da Alemanha, expôs a visão de sua empresa sobre o tema. Inicialmente, falou sobre a complexidade do atual sistema de absatecimento, que faz com que os consumidores se tornem cada vez mais distantes dos agentes da produção. Nos grandes centros urbanos, o varejo se firma cada vez mais como o principal ponto onde os consumidores obtém seus alimentos, levando o setor varejista a desempenhar um papel cada vez mais importante na evolução da segurança de alimentos.


Peter fez um apanhado histórico da garantia da qualidade: no passado, o fabricante é quem definia como deveria ser o produto, ao passo que atualmente estamos na era do controle dos processos ao longo da cadeia de suprimentos, Mas algumas empresas já estão uma etapa à frente, o que implica em uma abordagem de produtos e processos orientados para o que o consumidor deseja, sem desvios nem perdas. Para tanto, é preciso evoluir para além da garantia e da prevenção, priorizando a  redução de perdas e a melhoria contínua de processos com foco no meio ambiente.

Achei muito pertinente a crítica que Peter fez à confusão cada vez mais frequente entre o que de fato representa um perigo para a segurança de alimentos, com base em  evidências científicas, e o que é apenas percebido como perigo.

Particularmente, tenho chamado bastante a atenção para esse ponto, sendo que na Food Design passamos a diferenciar entre segurança intrínseca, quando de fato há perigo à saúde, e segurança percebida, quando se trata mais de uma percepção do consumidor sem fundamento científico. Muito se tem alardeado sobre perigos que não são perigos: apenas a título de exemplo, podemos citar a questão dos OGMs (organismos geneticamente modificados), que tem suscitado desconfiança e medo desnecessariamente. Nossa recomendação tem sido a de priorizar o que efetivamente diz respeito à saúde, deixando a segurança percebida para ser tratada pelo cliente da maneira que julgar oportuno.

Peter destacou as virtudes da certificação como um passo adiante, que ajuda o segmento a evoluir, mas também foi claro em suas críticas:
Segundo ele, “a certificação não pode ser a palavra final. Precisamos de uma continua demonstração de capacidade. Precisamos engajar os fornecedores de forma ativa".

Peter levantou o tema da certificação para lojas/ supermercados. Explicou que a rede Metro não exige isso, mas muitas unidades já estão certificadas em normas como IFS para varejo, ISO 22000, além de outras certificações locais, claro que sempre cumprindo os requisitos da próprio rede.

Encerrando sua apresentação, Peter voltou a enfatizar que devemos classificar perigos com base em ciência, desenvolvendo métodos mais eficazes de treinamento e resistindo à tentação de ceder à pressão de grupos movidos por outros interesses.


Quem é responsável pela segurança de alimentos? 
A perspectiva do consumidor

Charlie Arnot, CEO do The Center for Food Integrity, dos EUA, mostrou os resultados de uma pesquisa quantitativa feita com mais de 2000 consumidores em seu país sobre atitudes em relação à segurança de alimentos.


Os resultados apontaram como prioridade a segurança de alimentos, seguida do preço. Entendo que este dado está alinhado com a visão do representante do grupo Metro, Peter Overbosch, pois após  conseguir a garantia da segurança em toda a cadeia de suprimento, há que se esforçar para reduzir perdas, o que automaticamente levará à oferta de preços mais baixos.


Charlie discutiu os desafios enfrentados pelos stakeholders da indústria para a construção da confiança do consumidor no sistema alimentar de hoje. Ilustrou este desafio relatando o caso do recall de ovos que ocorreu nos Estados Unidos em 2010, quando mais de meio bilhão de ovos foram recolhidos por suspeita de Salmonella enteriditis. O episódio causou um enorme impacto no mercado de ovos, desencadeando um grande número de ações litigiosas entre empresas além de uma forte pressão junto ao FDA e ao Congresso dos Estados Unidos. Concluindo, Charlie disse que este foi mais um dentre vários casos de contaminação que contribuiram para acelerar a aprovação do FSMA – Food Safety Modernization Act, já citado no post publicado anteriormente sobre a palestra de Michael Taylor, do FDA.





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sexta-feira, 2 de março de 2012

Conferência, dia 2: tendência das práticas domiciliares de segurança de alimentos


Escolhi esta palestra porque tenho um especial interesse pelo tema, e também porque acredito que toda a sociedade de segurança de alimentos deveria estar mais atenta a esta parte da cadeia de alimentos.

Todos sabemos que uma parte significativa dos surtos acontece por descuidos, ou por falta de informação nas etapas que ocorrem nos lares. Alguns autores estimam esse percentual em 15% a 20%, mas em países menos desenvolvidos, onde as pessoas costumam se alimentar mais frequentemente em seus lares e consomem menos produtos industrializados, o número deve ser muito maior.

Christine M. Bruhn, PhD do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade da Califórnia em Davis,  nos Estados Unidos, enfatizou a importância da segurança dos alimentos nos lares dos consumidores, relatando dados de pesquisa desde a compra dos produtos alimentícios até o seu armazenamento e preparo domiciliar.


Christine M. Bruhn, da Universidade da Califórnia - Davis

Christine mostrou um gráfico com a porcentagem das pessoas que foram observadas visualmente lavando as mãos em momentos críticos do preparo de alimentos, como após manusear frango cru e quebrar ovos crus, ou antes do preparo efetivo dos alimentos. Detalhe: essas pessoas sabiam que estavam sendo observadas.

Veja só que resultados chocantes:



Observe que o número de pessoas envolvidas na pesquisa é muito significativo, cerca de 4500.

O dado que mais me chamou a atenção é que cerca de 50% das pessoas observadas afirmavam já ter tido algum curso ou formação relevante sobre segurança de alimentos. Se as pessoas agiam dessa forma mesmo sabendo que estavam sendo observadas, imaginem quais seriam os resultados se não soubessem...

Christine apresentou um grande número de dados de várias outras pesquisas, cujas conclusões resumo a seguir:
  • a proporção de consumidores que não seguem os cuidados recomendados é muito alta
  • a adesão real para um manuseio seguro não é tão grande quanto o comportamento relatado verbalmente levaria a crer
  • se o alimento contiver agentes patogênicos, a contaminação cruzada é provável
  • os educadores devem enfatizar as técnicas de lavagem
  • as tecnologias avançadas podem significar mais proteção para osconsumidores
  • os consumidores parecem receptivos à utilização de tecnologias avançadas para aumentar a segurança

O Dia 2 foi muuuuito longo. Fique no ar, ainda temos bastante informação pela frente!





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quinta-feira, 1 de março de 2012

Conferência, dia 2: a Chiquita é bacana no campo, a higiene na casa do consumidor nem tanto

Nesta semana, ficou um pouco mais difícil manter a produção dos posts no ritmo anteriormente previsto. pois quando voltei de viagem a montanha de trabalho havia crescido (felizmente...). Outro motivo da defasagem é que eu convidei os colegas cadastrados no nosso mailing para que viessem até a Food Design na terça feira passada para que eu pudesse mostrar pessoalmente o que foi a Conferência.

No dia 2, houve muitas outras palestras e sessões paralelas após o café da manhã. Vou fazer o relato de duas palestras que assisti e nas quais me esforcei para anotar o máximo possível,  já que elas nos ajudam a refletir com profundidade sobre como devemos tratar as pontas da cadeia “farm to fork”.

Reduzindo riscos no nascedouro da produção

Joan Rosen, Diretora de Segurança de Alimentos da Chiquita Brands International dos Estados Unidos, proporcionou um abrangente overview da sistemática adotada pela empresa em sua cadeia produtiva.


Joan Rosen, da Chiquita Brands International
 
O principal produto da Chiquita Brands é a banana, mas a empresa também produz outras frutas como abacate e abacaxi, além de saladas, frutas desidratadas e frutas cortadas prontas para o consumo.

A distribuição da empresa está concentrada principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha. As frutas são cultivadas em vários países tropicais conforme o mapa abaixo.

                (Fonte: http://www.chiquitabananas.com)


Após ler o meu relato, o leitor certamente irá concordar que não é à toa que a Chiquita Brands é líder num mercado aparentemente tão banal como o de... bananas.

Para a Chiquita, a segurança de alimentos começa com o controle do campo, o que não chega a ser uma novidade. Mas o que me chamou atenção é que fazem o controle de todos os taliões, mapeando-os para determinar cada talião liberado e cada talião reprovado para a produção. Assim, através de um minucioso processo de rastreabilidade, a empresa garante que esse mapeamento de aprovação dos taliões seja rigorosamente respeitado.

Segundo Joan, cada etapa do processo é garantida conforme o programa de integração denominado “Sete Etapas da Prevenção”:
  • Boas Práticas Agrícolas Integradas (GAPs)
  • Auditoria de todas as etapas da cadeia produtiva
  • APPCC/HACCP integrado
  • Educação progressiva
  • Sistema de rastreabilidade integrada
  • Sistema de Food Security
  • Gerenciamento avançado de riscos
Joan relatou ainda que os GAPs da Chiquita excedem os requisitos do FDA e do Leafy Greens Marketing Agreement (LGMA), acordo subscrito por cerca de 99% dos produtores agrícolas da Califórnia para elevar o padrão de segurança de alimentos. A lista dos grupos de requisitos dos GAPs da Chiquita se assemelha à do GlobalGAP, porém há um grupo de requisitos destinado a aprofundar toda o histórico do terreno do cultivo e dos terrenos vizinhos, bem como as alterações ocorridas ao longo do tempo.


A equipe de Joan Rosen é formada por mais de 40 especialistas, de agrônomos a microbiologistas (sendo muitos deles Ph.Ds), focados na excelência da segurança de alimentos. Essa equipe realiza milhares de auditorias por ano desde o campo e as packing houses até a estocagem e distribuição.

(NR: a cobertura da outra palestra mencionada no início seguirá no próximo post.)



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