Dr. Friedrich-Karl Lücke abordou também a questão da contaminação química de
orgânicos X “convencionais”.
Agrotóxicos
Dr. Friedrich
abordou alguns outros contaminantes, mas deu, e eu também darei aqui maior foco
aos agrotóxicos, que é onde pairam mais dúvidas, pelo menos para mim.
Como é de se esperar, muitas são as evidências de que os
alimentos orgânicos contêm muito menos contaminantes agrotóxicos do que
alimentos convencionais, conforme pode-se observar nos slides.
No primeiro slide é mostrada que a redução de resíduos acima do
LoD, limite de detecção, obtida no sistema de agricultura orgânica foi de até
94% (dados compilados por Smith-Spangler e pelo USDA – United States Department
of Agriculture).
Palestra
Dr. Friedrich-Karl Lücke Friedrich.
Fonte:
site da Conferência.
No segundo slide, podemos ver dados coletados pelo
Laboratório Oficial de Inspeção do Estado de Baden-Würtemberg, da Alemanha,
onde se nota que nos caso de vegetais orgânicos, os resíduos abaixo do limite
de detecção (LoD) é de 65% , contra somente 8% no caso de produção
“convencional”.
A área em
vermelho mostra o porcentual de produtos com resíduos acima da tolerância
legal.
Palestra
Dr. Friedrich-Karl Lücke Friedrich.
Fonte:
site da Conferência.
“Esta menor incidência de agrotóxicos nos alimentos orgânicos
de fato significa uma melhor saúde dos consumidores?”
Este era um ponto que há algum tempo eu gostaria de discutir
com algum renomado expert, pois até onde tenho pesquisado, não há evidência
consistente e confiável da correlação positiva entre uso de menor quantidade de
agrotóxicos versus melhoria da saúde de humanos, e então fiz
esta pergunta ao Dr. Friedrich. Sua resposta foi “não
há evidência de que esta menor incidência de agrotóxicos nos alimentos tenha
impacto na saúde e ou em aumento da longevidade dos consumidores. Apenas do
ponto de vista teórico, acredita-se melhor ter menos contaminantes do que mais
contaminantes em um alimento”.
Lembrou ele ainda que "contaminação zero",
desejada por muitos consumidores não é viável, pois em geral existe algum grau
de contaminação por agrotóxicos utilizados em campos vizinhos. E acrescentou: “é difícil comunicar ao consumidor que
"zero" depende da sensibilidade dos métodos analíticos.
Minhas considerações
Há muita controvérsia sobre os benefícios da contaminação
baixa por agrotóxicos nos orgânicos. O consumidor leigo julga que isso traz
benefícios para sua saúde ou maior longevidade. Mas, mais uma vez, à luz da
ciência atual, isso não se sustenta.
Assim, minha conclusão é que os orgânicos continuam sendo mais
importantes mais do ponto de vista sócio-econômico, do que efetivamente do
ponto de vista da segurança de alimentos. Vale entretanto observar que esta minha
conclusão é válida, desde que sejam usados agrotóxicos científica e legalmente
liberados para as diferentes culturas, usados na forma e limites quantitativos estabelecidas,
além de se respeitar a carência estabelecida antes da colheita.
Razões da aversão ao uso dos agrotóxicos pelos leigos
Várias são as causas que podem causar a aversão ao uso dos
agrotóxicos pelos leigos. Uma delas é o conhecimento da elevada incidência no
Brasil do mau uso dos agrotóxicos. Parece ser que isso vem melhorando, ainda
que em ritmo lento. Dentre os esforços que estão sendo feitos, mostro aqui
dados e 2011 e 2012 do PARA - Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos, realizado pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para
que você possa comparar a evolução.
Fonte: RELATÓRIO DE ATIVIDADES DE 2011 E 2012, ANVISA
Em 2011, foram encontradas 36% de amostras insatisfatórias,
ou seja, resultados com quantidade de agrotóxico acima do LMR legal (Limite
Máximo de Resíduo), ou uso agrotóxico não permitido legalmente, dentre os
diversos produtos analisados.
Em 2012, houve uma pequena redução da porcentagem de amostras
insatisfatórias: foram encontradas 29% de amostras insatisfatórias, ou seja,
com quantidade de agrotóxico acima do LMR legal (Limite Máximo de Resíduo), ou
uso agrotóxico não permitido legalmente, dentre os diversos produtos
analisados.
Penso que também eu deva mencionar outro fator que pode leva/
levou a muitos dosa resultados insatisfatórios: a falta, durante décadas, de
regulamentação de agrotóxicos para “minor
crops”, ou seja, culturas de menor significado econômico. Mas felizmente o
cenário está mudando: houve um significativo avanço nesta regulamentação, com a
publicação da Normativa Conjunta INC 01/ 2014. Esta Normativa resultou de um
grande trabalho feito conjuntamente pelo Mapa - Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, a Anvisa e o Ibama - Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, cobrindo cerca de 80 “minor crops”, possibilitando aos
produtores terem um balizamento técnico legal sobre o que usar e como usar.
Entretanto lembramos que ainda há várias outras culturas para
as quais há carência de orientação legal. A previsão era de que outras 47
culturas seriam incluídas nos próximos meses, a partir da publicação da INC
01/2014, mas os produtores e a sociedade continuam no aguardo.
Autor: Ellen Lopes, Food Design & IRSFD.
Mais uma vez perguntamos ao leitor: segurança dos alimentos
de orgânicos é melhor que dos “convencionais”? Mito ou verdade? Comente suas
conclusões sobre contaminação química.
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Muito interessante esse aspecto que vc aborda sobre o tema, desmistificando um pouco a questão do impacto quando compara-se com o consumo de alimentos que receberam dosagens corretas e de forma adequada de pesticidas aprovados. Cabe também, levantar incidência das possíveis consequências do consumo de alimentos vindos de plantações onde esses cultivos são mesmo controlados. Qual impacto para saúde quando se consome agrotóxico?
ResponderExcluirMárcia, conforme a resposta à pergunta que fiz ao Dr. Friedrich-Karl Lücke, não existe comprovação científica de que o consumo a longo prazo de resíduo de defensivo agrícola (termo mais apropriado que pesticida ou agrotóxico) nos alimentos desde que respeitado seu correto uso provoque problemas significativos em seres humanos. "A associação entre o uso de defensivos e a ocorrência de câncer, malformação fetal ou distúrbios neurológicos só foi demonstrada em animais expostos as concentrações altíssimas desses produtos", diz o toxicologista Flávio Zambrone, presidente do Instituto Brasileiro de Toxicologia. Para que um defensivo agrícola possa ser comercializado, é necessária aprovação do (órgão ambiental), da Anvisa (Ministério da Saúde) e do Ministério da Agricultura, que avalia a eficácia agronômica e, por fim, emite o registro. Do ponto de vista toxicológico, são solicitados muitos testes de toxicidade para animais superiores, tais como toxicidade oral aguda; toxicidade inalatória aguda; toxicidade cutânea aguda; mutagenicidade gênica e cromossômica. Se tiver interesse de tudo que é exigido, você pode consultar o Manual de Procedimentos do Ministério da Agricultura sobre Registro deste tipo de produto.
ExcluirPor isso eu considero que o desenvolvimento de sementes adequadas às nossas condições de solo e clima deveria ser incentivado. Não estou me referindo a transgênicos, mas a híbridos próprios para culturas cuja produção seja destinadas à indústria e ao varejo. Isso ajuda na diminuição da necessidade de agrodefensivos o que é bom para o produtor (barateia custos e fica com menor exposição aos produtos em questão) e o consumidor poderá receber um produto mais sadio em função desse parâmetro.
ResponderExcluirObrigada por seu comentário, Niurka. Concordo! Desenvolvimento de sementes adequadas às nossas condições de solo e clima DEVE SIM ser incentivado. Quanto mais adequado a determinadas condições de solo, clima e microbiota do solo, menos agrdefensivos.
ResponderExcluirAtt, Ellen